terça-feira, agosto 12, 2014

Desgosto à gosto

Agosto se anuncia.
É chegado Saturno.
Shiva.
Iansã.
Transformações se anunciam: novas direções e caminhos.
Na efemeridade, tudo se desfaz,
É chegada a hora.
Crescer por fim, é sair de dentro da gente e lançar o corpo no mundo.
Os poetas já anunciavam: todas as horas são horas extremas.
Tudo está exatamente como é.

quarta-feira, novembro 28, 2012

Os erráticos passos do ser humano



Sentei nessa praia de águas mansas para contemplar a lua. Lá, uma árvore, com todos os calçados que chegam pela lagoa: os erráticos passos do ser humano, toda sobra da existência, feito arte. Visto cada calçado, sinto o que é ter cada pé, reponho lugar passo a passo. Dou passos cambaleantes, como um bezerro que recém nasceu. Nesse pé em falso, escorrego em mim mesma, desequilibro meu centro, vou direto para uma corda bamba que me coloca entre o perigo e a dor. Parece que perdi meus sentidos, todos, estou cega, surda, apática e seca. E agora que a beleza fugiu de mim? O que eu farei no meio da escuridão? Ecoa em minha cabeça: mais sombra mais luz, mais luz mais sombra. As feridas estão abertas, palpitantes e um ar sufocado aqui quer sair e não pode, porque acorrentado, ninguém pode amar. Quero chorar e não consigo. Preciso é de um conhaque com doses de coragem e medida, vou fazer minha oração ao tempo, tempo, tempo e pedir o prazer legítimo e movimento preciso. Um movimento apenas. Uma atitude no momento exato muda o contexto. E agora que fiquei nua, parada, deixando a gravidade me levar direto para precipício? Fui esse ser errante, mesquinho, inconsequente e egoísta. Arrê, estou farto de semi-deuses! Onde é que há gente neste mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Não haverá sobras, riscos e danos. Caminho por essa praia e a lua aqui dentro me aponta uma estrada que no fim no vai dar em nada que eu pensava encontrar. Agora tropeço e caio em outra coisa dentro de mim: a gratidão por estar viva, por ser eu mesma, assim: humana, suja e errante. 

segunda-feira, outubro 29, 2012

Nascimento: a grata oportunidade de se reconhecer

"Cada dia é uma nova
 oportunidade de sermos o que não fomos ontem", escutei essa frase ontem do escritor angolano Valter Hugo Mãe e decidi que não perderia meu sono. Acordaria um tantinho melhor de manhã. O engraçado de ser tormenta é que às vezes minhas mudanças surpreendem a mim mesma. Na minha vida parece desde 15/11/11 parecem acontecer revoluções decisivas e importantes todos os dias. Ontem não só desmascarei padrões antigos, mostrei minha vulnerabilidade, como fui chamada a meditar e fazer ampla reflexão da minha vida, a fim de preservar a minha própria felicidade: aceitar que tenho o padrão de ter atitudes vaidosas e que elas não constroem nada para minhas relações. Aceitando isso tenho a grata oportunidade de me conhecer novamente e de alterar essa situação de uma vez por todas, trazendo para o meu coração mais humanidade e humildade, que constrói uma ampla gama de novas possibilidades, de mais leveza e fluir. Aceitar a si próprio como um ser que necessita de refinamentos e de aprendizagens. Oportunizar nas relações com as pessoas momentos de escuta profunda traz benefícios significativos. Me senti hoje nascendo de novo e para isso, me senti chamada a procurar minha mãe e saber algo básico e essencial: - Mãe, como eu nasci? Como foi meu nascimento? Afinal de contas é importante nascer. Foi hoje, pela primeira vez, depois de 25 anos, ao escutar profundamente minha mãe sobre meu delicado e complicado nascimento, descobri algo novo sobre mim, minha relação com os astros, a hora que nasci, o mento como os astros estavam alinhados.

quarta-feira, outubro 24, 2012

Na minha mão e no meu corpo o todo.



A humildade aprende, a vaidade se ofende. Aumenta a luz, descobre a sombra. No I CHING um grande mestre já aprendeu a ser-vir e ser flexível. Sabe o que é humildade? Ser(vir). Não como submissão, mas como resistência. Como um ato de doar o corpo pelo todo. E resistir com todo o corpo, além da matéria. Isso é o que os kaiowás estão fazendo. Sendo totais, íntegro
s, inteiros, todos juntos. Eles se empoderaram dos seus corpos, de sua água, terra, de seus irmãos. Tomaram para si o discernimento de que nem meu corpo é meu. Vislumbraram o cosmos e o infinito, ou seja, a pupila dos olhos e também o outro lado da lua. Aquilo que não enxergamos e lá ainda está. Do lugar onde estamos enxergarmos uma parte do todo, um ponto, um objeto: o ponto de vista cria o objeto. Assim, vemos não como as coisas são, mas como nós somos e estamos.
Tomar algo para si, não é se tornar dono, é saber libertar, é extravasar o limite do ser. Como uma concha de água na mão: muito aberta ela escorre por entre os dedos, muito fechada ela escapa por qualquer fresta. É preciso segurá-la mutuamente, com carinho e cuidado, a contemplando, a deixando estar.
Hoje é necessário e urge cuidar de mim. Cuidar de quem eu amo. Cuidar também de quem eu não conheço. Saber quem sou e aonde estou. Quais são minhas vulnerabilidades, para quem e ao quê ofertá-las. Olhar nos olhos, se lembrar, contar (e)(hi)stórias.
Há algo na vulnerabilidade que é iminente: revela a humildade, e a humildade modela o poder, lhe dá uma forma, de concha talvez, de punhado, de parte do todo, de integridade. Empoderar é distribuir cooperativamente poderes. Se empoderar de algo, nada mais é do que nos empoderarmos de nós mesmos.

Primavera de 2012.

domingo, outubro 14, 2012

redescobertas: o amor maduro, doce fruta

Da série lembro de cada dia ao seu lado

para um palhaço

Quero te sentir na alma. Sentir o sutil, o que não está dito, o que está posto. Quero infinitamente te inspirar. Quero ser tua fonte límpida de desejo. Te elevar, te lavar, levar. Te deixar ser, experimentar, sonhar, e aí estarei ao seu lado: serei seu, serei nosso, serei do mundo, serei isso que não tem nome, que tem sensação. Ir contigo até onde tu quiseres, se quiseres... se não quiseres tudo bem, até outro dia, em breve nos vemos! Quero expandir isso que temos e isso que não temos. Ser tua fã, amante, amiga e irmã. Quero me atravessar em ti, descobrir tuas dobras, te dar um colo, alinhar meu corpo, adentrar teus olhos, te energizar e te encher de vida. Quero ser a simplicidade e a beleza que se revela assim de repente: essa pequena epifania. Ser essa a força que faz vibrar todo o universo: o amor.

sábado, junho 30, 2012

história inventada de corsários e poetas

o corsário invadiu minhas águas e me sequestrou.


leio o i ching, escrevo desatinadamente e imagino: 


agora, de pijamas mesmo, ponho chave, trocados e uns sentimentos no bolso. saio pela cidade, invado avenidas, a lua vai lá fora e me leva, me chama, me impulsiona, corro na contramão do futuro, é presente!o presente se chama presente porque é uma dádiva. pedaladas, no portão, não sabe o número, e a sacada, se eu entrar pela sacada? falta um poema na mão ou uma garrafa de vinho? é fogo, incêndio! e arfa, coração na boca. 


fecha os olhos. olha para dentro. respira. é tudo calma de águas plácidas. e esse furacão que vem do coração? aonde vai parar?


no colo, no verde dos olhos, nessas cores que nem reconheces e nem sabes dizer seus nomes. nesse céu que transforma de verde quando escurece de nuvens. nesses olhos que fazem transmutações. nessas palavras que fazem deslizamento de terras. nesses dedos de vento que sopram, se aportam em mim. nesses silêncios coloridos de alegria e um sorriso doce de criança. 


e eu, aqui imóvel diante deste castelo sem paredes que construí para ser mais desafiador chegar: tens sorte de eu ser poeta e fazer poesia, ao invés de revoluções na tua porta!

histórias de uma rua chamada solidão


agora tenho um sono interminável e um cansaço de pestanas baixas de quem carrega a um nascer do sol nos olhos, esse resquício da boemia. me sento sem amanhã em um banco, em uma bicicleta, em um sofá no chão que é a cama desse amor urgente.

me faço ali entregue, mergulhada nos cheiros e gostos. e como quero brincar no teu corpo, escorregar meus dedos e te fazer sentir as sutilezas, os lugares recônditos e propícios, deixando rastros e um arrepio de um arranhar leve, rasgos claros. e se de repente palpitam pupilas castanhas infantis, eu de pronto agradeço delas virem acompanhadas de um sorriso docemente sacana. aaah...

tenho um ontem guardado feito o vôo de um pássaro que é bonito deixá-lo ir só para poder vê-lo voar. me serves nas noites de carinho e mal sabes que nem posso com essa vitamina toda da manhã que me ofereces com essa cara lavada de mãos apenas. faço um esforço para lembrar nos absurdos e na gratuidade da noite anterior a essa, para ter um pouco de raiva, e não posso, porque já me perdi nos risos e delícias de todos causos e besteiras que contamos e nos deixamos levar, talvez pela honestidade, talvez pela mentira bem dita em exagero.

e se te faço mais bonito do que realmente é, talvez porque não te conheço, e muito porque comecei a traçar os primeiros traços e eles vem do meu coração que é teu espelho. meu coração está inundado de amor pelo mundo cada dia um pouco, é um cão vadio, amante de malandros velhos, artistas pé rapados e bons garotos da classe média, às vezes até de mulheres lindas, por que não?! e recebo cartas de amor apaixonadas e mensagens impróprias nas madrugadas. e o que importa? pouco ou quase nada nesta meia-noite em que de novo preciso dormir, mas a lua continua a brilhar lá fora e bob dylan e pink floid não são o bastante para uma noite de cama e repouso.

toca milton, sabina, baleiro, cazuza e lenine mil vezes como se fosse inédito, como a primeira vez. e me sinto como se o mundo fosse pequeno. e em todas as canções tem alguma coisa de ti e penso, puta que pariu: tou fudida!, não como antes... um pouco mais, um pouco mais, e ele ainda me receita um chá para gripe enquanto atrás do balcão responde a provocações a dois centímetros, bilhetinhos impróprios e doces na ponta língua. 
e da minha boca estonteada pende o desejo latente de ir ou não ir, querer ou não querer.

pronto, estou cá com minha alma e pro beijo de boa noite de minha mãe: sou sossego e alegria. 
alegria de estar viva, de eu ser exatamente quem sou e de te ter deliciosamente desnecessário.

quinta-feira, junho 21, 2012

Laço sem nó

Para Laura Pujol
que me ensinou a lembrar dos meus sonhos

amar é perpetuar a pele,
expandir a alma
inspirar.
entrega imediata de
render (-se)
entrelaçar (-se):
laço sem nó é o amor.
solto
leve 
livre
reticências com olhares entre um gole e outro.
é zelo, demora, estada
deixa ir para saber voltar.
à toa, à tona é
lágrima no banho, recusa, raiva, saudade, esse vaziozinho,
tudo isso é amor.
muito além, muito aquém dos trópicos, das distâncias
não há pressa, é só momento:
denso, profundo, infinito, 
corpo que pesa, cheiro que fica.
aperto, arrepio, sopro, conforto
sorriso, peito amigo, peixinhos limpa vidro e abraço desconhecido.
tudo é amor!
eu,
tu,
nós,
eles,
todos, 
é único:
só eles, só nós, só tu, só eu: sol.
iluminar é amar.
é permanência,
estado,
presença.
amar é tatuar a alma na pele?

Inverno /2012

Com amor, Cubas